Cada pássaro
sabe-se pássaro.
Damário Dacruz
Teu leito feito de tantos barcos e neblina aporta
a margem esquerda do rio Paraguaçu,
em silêncio. Uma canoa de sonhos,
meninos descalços,
pássaros sobrevoando sobrados
e esperanças.
Arruar o vôo esperado em busca de um ninho
derradeiro. Aquelas cores de Suzart,
a contemporaneidade pop de Pirulito,
o São Jorge de Nair abençoando a fome morta
por flechas certeiras depois de vencermos a aclamação
de incertezas
apontadas em direção da poesia.
Labirintos de tantos dias presos em nossos passos
de cavaleiros fincados em quintais de tantas casas,
tantos riscos traçados em mãos
versando linhas e mais linhas e varais onde enxugamos
estrelas cadentes escorridas de nossos olhos
vidrados na imensidão das pegadas de Jesus.
Continuamos perseguindo o desafio
de ser flor orvalhada
e manhã desenhada concertando a clave de sol,
poeta. Escuta! É um papa-capim solitário
cantando a Lira. Escuta poeta, é o silêncio
de uma poesia inabalável. Escuta poeta,
é a voz, a voz embargada de uma palavra
sempre a ser recitada.
Segura firme sua espada, somos os Cavaleiros
de São Jorge soluçando a alegria dos versos
vitoriosos desse azul ensolarado onde o verbo
nos oferenda a licença de voar ao princípio.
Escuta poeta, somos imortais.